domingo, 23 de dezembro de 2012

CICLO DO NATAL: MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO


CICLO DO NATAL: MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO


Celebração: TEMPO DO NATAL

Natividade e imposição do Nome de Jesus

O tempo do Natal começa com as primeiras vésperas do natal, a 24 de dezembro, e termina com a Oitava do Natal, que lembra a Circuncisão e imposição do Nome de Jesus.
Até princípios do século III, a festa do Natal era celebrada, no Oriente, a 6 de janeiro, como início das manifestações de Jesus. Em Roma, fixou-se no Natal no dia 25 de dezembro, e isso já na primeira metade do século IV; quando aí foi introduzido, com toda probabilidade ignorava-se a comemoração oriental. Escolheu-se em Roma o dia 25 de dezembro com o intuito de afastar os fiéis do perigo de idolatria, pois esse dia era consagrado, com grandes pompas, ao deus Mitra, o “Sol Invicto”.
COMENTÁRIO DOGMÁTICO. – O Tempo do Natal celebra o mistério da Encarnação nas várias manifestações de Jesus ao mundo. Nos vinte dias desse período, a Igreja comemora as várias etapas da infância e vida oculta do Salvador: a Natividade (25 de dezembro), a Circuncisão (na Oitava, a 1º de janeiro – no antigo calendário litúrgico, atualmente é a Festa de Santa Maria Mãe de Deus), o encontro com Simeão e Ana (domingo depois do Natal – também no calendário anterior a Reforma Litúrgica), e a fuga para o Egito ( 28 de dezembro, Festa dos Santos Inocentes).
            ENSINAMENTO ASCÉTICO.  – Os exemplos do Menino Jesus nos animam à pobreza de espírito e ao desapego das vaidades e glórias do mundo; movem-nos à mortificação com a fuga das comodidades e prazeres corporais; arrastam-nos enfim à união íntima da inteligência, da vontade e do coração com Jesus Cristo.
            Os mistérios do Natal apresentam-se, diante de nós, com caráter profundamente familiar: Deus é nosso Pai, Maria é nossa Mãe, e Jesus é nosso irmão maior. A convicção de que Deus mora em nós, e nós vivemos nele, de que a nossa santificação se efetua com os atos normais e simples da vida diária, devem suscitar em nós o espírito de completo e total abandono em Deus e de infância espiritual. Ao mistério da Encarnação devemos corresponder com inabalável, amor ilimitado e gratidão filial.
            CARÁTER LITÚRGICO. – A nota predominante do Tempo do Natal é a alegria, que os anjos anunciaram aos pastores e que o hino próprio do Natal, o Glória in excelsis, canta expressivamente.
Sentimo-nos elevados com as melodias e funções desse dia sagrado, e com a cena singela e comovente do presépio, ideia feliz se São Francisco de Assis, que o inaugurou pela primeira vez em 1223.
             

(Fonte: Missal Romano Cotidiano, Edições Paulinas, 1964, pág. 77)









A DIVINA MATERNIDADE DE MARIA VIRGEM

O Natal é a verdadeira festa da divina Maternidade, lembrada também a 1.º de janeiro e festejada a 11 de outubro (grifo nosso: antigo calendário litúrgico).
            Jesus Cristo nasceu de Maria Virgem, a qual, por isso, se chama e é a verdadeira Mãe de Deus. Como a mulher é chamada e é verdadeira mãe da pessoa do filho, mesmo não lhe comunicando a alma (criada imediatamente por Deus), mas somente o corpo, assim a Virgem, dando a matéria corporal ao Verbo, por obra do Espírito Santo (o qual conferiu ao seio da Virgem a fecundidade, sem a intervenção do homem), tornou-se a verdadeira Mãe de Deus.


(Fonte: Missal Romano Cotidiano, Edições Paulinas, 1964, pág. 83)





A ENCARNAÇÃO

A segunda Pessoa da SS. Trindade, isto é, o Filho, encarnou-se e se fez homem para nos salvar, a saber, para nos remir do pecado e reconquistar-nos o Paraíso.
Jesus Cristo fez-se homem tomando um corpo e uma alma, como temos nós, no seio puríssimo de Maria Virgem, por obra do Espírito Santo. Ele fazendo-se homem, não deixou de ser Deus, mas permanecendo verdadeiro Deus, começou a ser também verdadeiro homem.
Em Jesus Cristo há duas naturezas: a natureza divina e a natureza humana, unidas na única pessoa divina (união pessoa ou hipostática) do Filho de Deus. Ele, tendo a natureza divina e a natureza humana, opera como verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Jesus Cristo, como Deus, sempre existiu: como homem começou a existir no momento da concepção.


(Fonte: Missal Romano Cotidiano, Edições Paulinas, 1964, pág. 87)




OS FRUTOS DO NATAL

O mistério do Natal é um admirável comércio entre a divindade e a humanidade. Primeiro comércio: o homem oferece ao Filho de Deus sua natureza humana e o Verbo recebe esta natureza que assume e une a si, numa união pessoal. Segundo comércio: Jesus torna o homem participante de sua natureza divina e o torna filho de Deus.
            Por isso, no homem há duas vidas: a vida natural e a vida sobrenatural da graça que eleva e aperfeiçoa a natural.
            A Encarnação torna-nos Deus visível em todas as suas perfeições: e nós o podemos ouvir e imitar; torna Deus passível, capaz de expiar os nossos pecados com seus sofrimentos e de curar-nos com suas humilhações.
            Jesus “nasce num estábulo do Belém e ergue o próprio trono e a própria cátedra numa manjedoura. Deste lugar o Salvador condena o fausto, a soberba, a sensualidade” (Cardeal Schuster) e cura o nosso orgulho com sua obediência e humildade; nossa ambição de riqueza com sua pobreza, nossa concupiscência da carne com sua penitência, mortificação e pureza.


(Fonte: Missal Romano Cotidiano, Edições Paulinas, 1964, pág. 92)



OS BENEFÍCIOS DA REDENÇÃO

            O homem foi criado num estado feliz com o altíssimo destino de ver e gozar eternamente a Deus, com o dom da graça santificante e com os outros dons superiores à natureza humana. Esses dons são: a isenção da ignorância (ciência infusa), a isenção das fraquezas e misérias morais, causadas pelas paixões desregradas (integridade), a isenção das dores e das enfermidades (impassibilidade) e a isenção da necessidade de morrer (imortalidade).
            Todos estes dons foram condicionados a uma prova. Adão e Eva, provando o fruto proibido, cometeram um grave pecado de soberba e desobediência; despojaram-se a si mesmos e a todos os homens da graça e de todos os outros dons sobrenaturais, sujeitando-os ao pecado, ao demônio, à morte, à ignorância, às más inclinações e a todas as outras misérias e excluindo-os do paraíso.
            A obra da Encarnação e da Redenção, realizada somente por amor por Jesus Cristo e (secundariamente) por Maria SS., reergueu o homem do pecado e o recolocou, de certo modo, num estado melhor do que anterior à queda. De fato, tornou o homem filho de Deus, irmão de Jesus Cristo e herdeiro do paraíso, e restituiu-lhe a graça santificante, com cortejo das virtudes infusas e dos dons do Espírito Santo e das graças atuais. Mas a Redenção não restitui logo ao homem os dons pré-naturais: a ciência e a integridade, que ele pode conseguir de modo progressivo, a impassibilidade e a imortalidade, reservadas à vida eterna.
            Nas enfermidades, nas provações e na luta contra a concupiscência temos muitas ocasiões para imitar os exemplos de Jesus, adquirir as virtudes e aumentar os méritos para o paraíso.


(Fonte: Missal Romano Cotidiano, Edições Paulinas, 1964, pág. 96)


O BATISMO
            A Circuncisão, que na Antiga Lei purificava do pecado, era figura do Batismo.
            O Batismo é o sacramento que nos faz cristãos, isto é, seguidores de Jesus Cristo, filhos de Deus, membros da Igreja e herdeiros do Paraíso. Além disso perdoa o pecado original e os atuais (se  houver), com toda dívida de pena, confere a primeira graça santificante e a graça sacramental, infunde as virtudes sobrenaturais e os dons do Espírito Santo, imprimir o caráter e torna capaz de receber os outros Sacramentos.
            Matéria do Batismo é a água natural, benta no Sábado Santo. Confere-se o Batismo derramando (por três vezes) a água na cabeça do batizando e dizendo ao mesmo tempo as palavras (forma): “Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
O Ministro ordinário do Batismo solene é o sacerdote, o extraordinário é o Diácono; mas em caso de necessidade, isto é, em perigo de morte, qualquer pessoa (mesmo herege e infiel), pode e deve batizar, contanto que tenha a intenção de fazer o que faz a Igreja.
A criança deve ser batizada dentro de oito ou dez dias depois do nascimento.


(Fonte: Missal Romano Cotidiano, Edições Paulinas, 1964, pág. 113)

Catequese de Bento XVI: A fé de Maria - 19/12/2012


CATEQUESE – A FÉ DE MARIA

Sala Paulo VI – Vaticano
Quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Queridos irmãos e irmãs,

No caminho do Advento a Virgem Maria ocupa um lugar particular como aquela que de modo único esperou a realização das promessas de Deus, acolhendo na fé e na carne Jesus, o Filho de Deus, em plena obediência à vontade divina. Hoje, gostaria de refletir brevemente convosco sobre a fé de Maria a partir do grande mistério da Anunciação.

            “Chaîre kecharitomene, ho Kyrios meta sou”, “Alegra-te, cheia de graça: o Senhor é convosco” (Lc 1, 28). São estas as palavras – reportadas pelo evangelista Lucas – com as quais o arcanjo Gabriel se dirige a Maria. À primeira vista, o termo chaîre, “alegra-te”, parece uma saudação normal, como era usual no âmbito grego, mas esta palavra, se lida a partir da tradição bíblica, adquire um significado muito mais profundo. Este mesmo termo está presente quatro vezes na versão grega do Antigo Testamento e sempre como anúncio de alegria pela vinda do Messias (cfr Sof 3,14; Gl 2,21; Zc 9,9; Lam 4,21). A saudação do anjo a Maria é também um convite à alegria, a uma alegria profunda, anuncia o fim da tristeza que há no mundo diante das limitações da vida, do sofrimento, da morte, da maldade, da escuridão do mal que parece obscurecer a luz da bondade divina. É uma saudação que marca o início do Evangelho, da Boa Nova. 

Mas por que Maria é convidada a alegrar-se deste modo? A resposta está na segunda parte da saudação: “o Senhor está convosco”. Também aqui para compreender bem o sentido da expressão devemos dirigir-nos ao Antigo Testamento. No Livro de Sofonias encontramos esta expressão “Alegra-te, filha de Sião... Rei de Israel é o Senhor em meio a ti... O Senhor, teu Deus, em meio a ti é um salvador poderoso” (3,14-17). Nestas palavras há uma dupla promessa feita a Israel, à filha de Sião: Deus virá como Salvador e habitará em meio ao seu povo, no ventre da filha de Sião. No diálogo entre o anjo e Maria realiza-se exatamente esta promessa: Maria é identificada com o povo escolhido por Deus, é verdadeiramente a Filha de Sião em pessoa; nela se cumpre a esperada vinda definitiva de Deus, nela toma morada o Deus vivente.

Na saudação do anjo, Maria é chamada “cheia de graça”; em grego o termo “graça”, charis, tem a mesma raiz lingüística da palavra “alegria”. Também nesta expressão esclarece-se a fonte de alegria de Maria: a alegria provém da graça, provém, isso é, da comunhão com Deus, do ter uma conexão tão vital com Ele, de ser morada do Espírito Santo, totalmente moldada pela ação de Deus. Maria é a criatura que de modo único abriu a porta a seu Criador, colocou-se em suas mãos, sem limites. Ela vive inteiramente da e na relação com o Senhor; está em atitude de escuta, atenta a acolher os sinais de Deus no caminho do seu povo; está inserida em uma história de fé e de esperança nas promessas de Deus, que constitui o cerne da sua existência. E se submete livremente à palavra recebida, à vontade divina na obediência da fé.

O Evangelista Lucas narra a história de Maria por meio de um fino paralelismo com a história de Abraão. Como o grande Patriarca é o pai dos crentes, que respondeu ao chamado de Deus a sair da terra onde morava, da sua segurança, para iniciar o caminho para uma terra desconhecida e possuindo somente a promessa divina, assim Maria confia com plena confiança na palavra que lhe anuncia o mensageiro de Deus e se torna modelo e mãe de todos os crentes.

Gostaria de destacar um outro aspecto importante: a abertura da alma a Deus e à sua ação na fé inclui também o elemento das trevas. A relação do ser humano com Deus não apaga a distância entre o Criador e a criatura, não elimina o que afirma o apóstolo Paulo frente à profundidade da sabedoria de Deus: “Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos” (Rm 11,33). Mas propriamente aquele que – como Maria – está aberto de modo total a Deus, vem a aceitar a vontade divina, também se é misterioso, também se sempre não corresponde ao próprio querer e é uma espada que transpassa a alma, como profeticamente dirá o velho Simeão a Maria, no momento no qual Jesus é apresentado no Templo (cfr Lc 2,35). O caminho de fé de Abraão compreende o momento de alegria pela doação do filho Isaac, mas também o momento de treva, quando precisa ir para o monte Moria para cumprir um gesto paradoxal: Deus lhe pede para sacrificar o filho que havia acabado de lhe dar. No monte o anjo lhe ordena: “Não estenda a mão contra o menino e não lhe faça nada! Agora sei que tu temes a Deus e não me recusaste o teu filho, o teu unigênito” (Gen 22, 12); a plena confiança de Abraão no Deus fiel às promessas não é menor mesmo quando a sua palavra é misteriosa e difícil, quase impossível, de acolher. Assim é para Maria, a sua fé vive a alegria da Anunciação, mas passa também pelas trevas da crucificação do Filho, para poder chegar à luz da Ressurreição.

Não é diferente também para o caminho de fé de cada um de nós: encontramos momentos de luz, mas encontramos também momentos no qual Deus parece ausente, o seu silêncio pesa no nosso coração e a sua vontade não corresponde à nossa, àquilo que nós queremos. Mas quanto mais nos abrimos a Deus, acolhemos o dom da fé, colocamos totalmente Nele a nossa confiança – como Abraão e como Maria – tanto mais Ele nos torna capazes, com a sua presença, de viver cada situação da vida na paz e na certeza da sua fidelidade e do seu amor. Isso, porém, significa sair de si mesmo e dos próprios projetos, para que a Palavra de Deus seja a luz que guia os nossos pensamentos e as nossas ações.

Gostaria de concentrar-me ainda sobre um aspecto que emerge nas histórias sobre a Infância de Jesus narrada por São Lucas. Maria e José levam o filho a Jerusalém, ao Templo, para apresentá-lo e consagrá-lo ao Senhor como prescreve a lei de Moisés: “Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor” (cfr Lc 2,22-24). Este gesto da Sagrada Família adquire um sentido ainda mais profundo se o lemos à luz da ciência evangélica de Jesus aos 12 anos, depois de três dias de busca, é encontrado no Templo a discutir entre os mestres. As palavras cheias de preocupação de Maria e José: “Filho, por que nos fez isso? Teu pai e eu, angustiados, te procurávamos”, corresponde à misteriosa resposta de Jesus: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai? (Lc 2,48-49). Isso é, na propriedade do Pai, na casa do Pai, como o é um filho. Maria deve renovar a fé profunda com a qual disse “sim” na Anunciação; deve aceitar que na precedência havia o Pai verdadeiro e próprio de Jesus; deve saber deixar livre aquele Filho que gerou para que siga a sua missão. E o “sim” de Maria à vontade de Deus, na obediência da fé, repete-se ao longo de toda a sua vida, até o momento mais difícil, aquele da Cruz.

Diante de tudo isso, podemos nos perguntar: como pode viver Maria este caminho ao lado do Filho com uma fé tão forte, também nas trevas, sem perder a plena confiança na ação de Deus? Há uma atitude de fundo que Maria assume diante a isso que vem na sua vida. Na Anunciação Ela permanece perturbada escutando as palavras do anjo – é o temor que o homem experimenta quando é tocado pela proximidade de Deus - , mas não é a atitude  de quem tem medo diante disso que Deus pode querer. Maria reflete, interroga-se sobre o significado de tal saudação (cfr Lc 1,29). O termo grego usado no Evangelho para definir este “refletir”, "dielogizeto", refere-se à raiz da palavra “diálogo”. Isto significa que Maria entra em íntimo diálogo com a Palavra de Deus que lhe foi anunciada, não a considera superficialmente, mas se concentra, a deixa penetrar na sua mente e no seu coração para compreender isso que o Senhor quer dela, o sentido do anúncio. Um outro aceno para a atitude interior de Maria frente à ação de Deus o encontramos sempre no Evangelho de São Lucas, no momento do nascimento de Jesus, depois da adoração dos pastores. Afirma-se que Maria “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19); em grego o termo é symballon, poderíamos dizer que Ela “tinha junto”, “colocava junto” no seu coração todos os eventos que estavam acontecendo; colocava cada elemento, cada palavra, cada fato dentro de tudo e o comparava, o conservava, reconhecendo que tudo provém da vontade de Deus. Maria não para em uma primeira compreensão superficial disso que acontece na sua vida, mas sabe olhar em profundidade, deixa-se levar pelos acontecimentos, os elabora, os discerne, e adquire aquela compreensão que somente a fé pode garantir. É a humildade profunda da fé obediente de Maria, que acolhe em si também aquilo que não compreende do agir de Deus, deixando que seja Deus a abrir a mente e o coração. “Bem aventurada aquela que acreditou no cumprimento da palavra do Senhor” (Lc 1,45), exclama a parente Isabel. É propriamente pela sua fé que todas as gerações a chamarão bem aventurada.

Queridos amigos, a solenidade do Natal do Senhor que em breve celebraremos, convida-nos a viver esta mesma humildade e obediência de fé. A glória de Deus não se manifesta no triunfo e no poder de um rei, não resplandece em uma cidade famosa, em um suntuoso palácio, mas toma morada no ventre de uma virgem, revela-se na pobreza de um menino. A onipotência de Deus, também na nossa vida, age com a força, sempre silenciosa, da verdade e do amor. A fé nos diz, então, que o poder indefeso daquele Menino no fim vence o rumor dos poderes do mundo.

BENEDICTVS PP XVI

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Catequese de Bento XVI: Etapas da Revelação - 12/12/12


CATEQUESE – ETAPAS DA REVELAÇÃO

Sala Paulo VI – Vaticano

Quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Queridos irmãos e irmãs,

Na catequese passada falei da Revelação de Deus, como comunicação que Ele faz de Si mesmo e do seu desígnio de benevolência e de amor. Esta Revelação de Deus se insere no tempo e na história dos homens: história que transforma “o lugar no qual podemos constatar o agir de Deus a favor da humanidade. Ele chega até nós naquilo que para nós é mais familiar, e fácil de verificar, porque constitui o nosso contexto cotidiano, sem o qual não seríamos capazes de entender” (João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 12).
O Evangelista São Marcos – como ouvimos – relata, em termos claros e sintéticos, os momentos iniciais da pregação de Jesus “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo” (Mc 1, 15). Isso que ilumina e dá sentido pleno à história do mundo e do homem começa a brilhar na gruta de Belém; é o Mistério que logo contemplaremos no Natal: a salvação que se realiza em Jesus Cristo. Em Jesus de Nazaré Deus manifesta a sua face e pede a decisão do homem de reconhecê-Lo e de segui-Lo. O revelar-se na história para entrar em relação de diálogo de amor com o homem, doa um novo sentido a todo o caminho humano. A história não é uma simples sucessão de séculos, de anos, de dias, mas é o tempo de uma presença que doa pleno significado e a abre a uma sólida esperança.
Onde podemos ler as etapas desta Revelação de Deus? A Sagrada Escritura é o lugar privilegiado para descobrir os eventos deste caminho, e gostaria – mais uma vez – de convidar todos, neste Ano da Fé, a tomar mais em mãos a própria Bíblia para lê-la e meditá-la e a prestar mais atenção às Leituras da Missa dominical; tudo isso constitui um alimento precioso para a nossa fé.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O FIM DO MUNDO


O FIM DO MUNDO

Dom Fernando Arêas Rifan*

Neste tempo litúrgico do Advento, preparação para o Natal, a Igreja nos convida à mudança de vida, ou seja, à conversão, a “despertarmos do sono” (Rm 13,11), a sairmos da mediocridade, propondo-nos a reflexão sobre as verdades eternas, para, como nos lembrou Bento XVI no Angelus deste domingo, “estarmos prontos para a vinda do Senhor”.

Celebramos duas vindas de Jesus Cristo ao mundo. A primeira, com a sua encarnação, ocorrida historicamente há cerca de dois mil anos. A segunda é o retorno glorioso no fim dos tempos. Como disse o Papa, “esses dois momentos, que cronologicamente são distantes – e não se sabe o quanto -, tocam-se profundamente, porque com sua morte e ressurreição Jesus já realizou a transformação do homem e do cosmo que é a meta final da criação. Mas antes do final, é necessário que o Evangelho seja proclamado a todas as nações, disse Jesus no Evangelho de São Marcos (cf. Mc 13,10). A vinda do Senhor continua, o mundo deve ser penetrado pela sua presença. E esta vinda permanente do Senhor no anúncio do Evangelho requer continuamente nossa colaboração; e a Igreja, que é como a Noiva, a esposa prometida do Cordeiro de Deus crucificado e ressuscitado (cf. Ap 21,9), em comunhão com o Senhor colabora nesta vinda do Senhor, na qual já inicia o seu retorno glorioso”.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Catequese de Bento XVI - 05/12/2012





CATEQUESE

Sala Paulo VI
Quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

 Caros irmãos e irmãs,

            No início de sua Carta aos cristãos de Éfeso (cfr 1, 3-14), o apóstolo Paulo eleva uma oração de louvor a Deus, Pai de Senhor Nosso Jesus Cristo, que nos introduz a viver o tempo do Advento, no contexto do Ano da Fé. Tema deste hino de louvor é o projeto de Deus para o homem, definido com termos plenos de alegria, de admiração e de gratidão, como um “desígnio de benevolência” (v.9), de misericórdia e de amor. 

            Por que o Apóstolo eleva a Deus, do fundo do seu coração, este agradecimento? Porque olha para seu agir na história da salvação, culminado na encarnação, morte e ressurreição de Jesus, e contempla como o Pai celeste nos tenha escolhido antes mesmo da criação do mundo, para sermos seus filhos adotivos, no seu Filho Unigênito, Jesus Cristo (cfr Rm 8,14s.; Gal 4,4s.). Existimos, desde a eternidade em Deus, em um grande projeto que Deus tem mantido em si mesmo e que decidiu implementar e revelar “na plenitude dos tempos” (cfr Ef 1,10). São Paulo nos faz compreender, então, como toda a criação e, em particular, o homem e a mulher não são frutos do acaso, mas respondem a um desígnio de benevolência da razão eterna de Deus que com o poder criador e redentor da sua Palavra dá origem ao mundo. Esta primeira afirmação nos recorda que a nossa vocação não é simplesmente existir no mundo, estar inserido em uma história, e nem somente ser criatura de Deus; é alguma coisa maior: é ser escolhido por Deus, mesmo antes da criação do mundo, no Filho, Jesus Cristo. Nele, então, nós existimos, por assim dizer, desde sempre. Deus nos contempla em Cristo, como filhos adotivos. O “desígnio de benevolência” de Deus, que vem qualificado pelo Apóstolo Paulo também como “desígnio de amor” (Ef 1,5), é definido “o mistério” da vontade divina (v. 9), escondido e ora manifestado na Pessoa e na obra de Cristo. A iniciativa divina antecede cada resposta humana: é um dom gratuito de seu amor que nos envolve e nos transforma.

sábado, 1 de dezembro de 2012

CICLO DO NATAL




MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO

Nos eternos desígnios de Deus, a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade estava decretada em vista do pecado de Adão e Eva, autores do primeiro pecado, aos quais Deus contrapõe Jesus e Maria, respectivamente, autor e medianeira suplicante da vida da graça. 
No período natalício a Virgem Mãe e Cristo Senhor são festejados inseparavelmente. Celebra-se a preparação do mundo para a vinda do Salvador, preparação levada a efeito pelo Eterno Pai no decorrer dos séculos.
Esse período litúrgico compreende:
1)      O Tempo do Advento, que lembra os milênios durante os quais a humanidade esperou a vinda do Messias;
2)      O Tempo do Natal, que recorda o nascimento do Salvador;
3)      O Tempo da Epifania, que recorda as manifestações de Jesus.


Preparação: TEMPO DO ADVENTO

Espera do Messias

Os primeiros traços do Advento encontram-se na Espanha e na França. Em Roma, teve origem sob o Papa Simplício, entre os anos 471 e 483, após os grandes debates cristológicos contra Nestório e Eutiques.
            COMENTÁRIO DOGMÁTICO. – Na liturgia do Advento a Igreja relembra as três vindas de Cristo:
1)      a vinda temporal, que se deu com o nascimento, em Belém, após a longa espera de milênios;
2)      a vinda espiritual de Jesus nos corações, que se dá no curso da vida terrena de toda criatura humana;
3)      a última vinda de Jesus Cristo para o Juízo Final. Será o complemento da obra redentora.
ENSINAMENTO ASCÉTICO. – A vinda temporal de Jesus é um fato passado. Mas, como mistério vivo e real na Eucaristia, tem uma virtude e uma graça especial. No Advento a Igreja quer preparar os fiéis para as graças que o Deus Menino mereceu com seu nascimento.
CARÁTER LITÚRGICO. – O Advento apresenta dois caracteres particulares: o primeiro é de entusiasmo e de anseio confiante pela vinda do Salvador; o segundo caráter é de penitência, e parece predominar sobre o primeiro: manifesta-se pela cor roxa dos paramentos, pelo uso mais moderado do órgão e das flores.