ANTOLOGIA
JOSÉ DE ANCHIETA
Salve Maria Santíssima!
Começamos nesse post a divulgar algumas poesias do Bem-aventurado José de Anchieta, conforme indicação bibliográfica ao final. No dia 2 de abril próximo o Santo Padre Francisco canonizará o Beato José de Anchieta, por decreto equipolente. Considerado <<Apóstolo do Brasil>>, seus poemas são exímias catequeses. Compartilhamos com os leitores essas linhas de contornos simples, simplicidade essa que foi preocupação primeira de Anchieta, em sua obra literária.
Viva (São) José de Anchieta!
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------
DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO
Ó
que pão, ó que comida,
Ó
que manjar
Se
nos dá no santo altar
Cada
dia!
Filho
da Virgem Maria,
Que
Deus-Padre cá mandou
E
por nós na cruz passou
Crua
morte,
E
para que nos conforte
Se
deixou no sacramento
Para
dar-nos, com aumento,
Sua
graça,
Esta
divina fogaça
É
manjar de lutadores,
Galardão
de vencedores
Esforçados,
Deleite
de namorados,
Que,
co’o gosto de pão,
Deixam
a deleitação
Transitória.
Quem
quiser haver vitória
Do
falso contentamento,
Goste
deste sacramento
Divinal.
Este
dá ida imortal,
Este
mata toda fome,
Porque
nele Deus e homem
Se
contêm.
É
fonte de todo bem,
Da
qual quem bem se embebeda
Não
tenha medo da queda
Do
pecado
Ó
que divino bocado
Que
tem todos os sabores!
Vinde,
pobres pecadores,
A
comer!
Não
tendes de que temer,
Senão
de vossos pecados.
Se
forem bem confessados,
Isto
basta,
Qu’este
manjar tudo gasta,
Porque
é fogo gastador,
Que
com seu divino ardor
Tudo
abrasa.
É
pão dos filhos de casa,
Com
que sempre se sustentam
E
virtudes acrescentam
De
continho.
Todo
al é desatino,
Se
não comer tal vianda
Com
que a alma sempre anda
Satisfeita.
Este
manjar aproveita
Para
vícios arrancar
E
virtudes arraigar
Nas
entranhas.
Suas
graças são tamanhas
Que
não se podem contar,
Mas
bem se podem gostar
De
quem ama.
Sua
graça se derrama
Nos
devotos corações
E
os enche de bênçãos
Copiosas.
Ó
entranhas piedosas
De
vosso divino amor!
Ó
meu Deus e meu Senhor
Humanado!
Quem
vos fez tão namorado
De
quem tanto vos ofende?
Quem
vos ata? Quem vos prende
Com
tais nós?
Por
caber dentro de nós
Vos
fazeis tão pequenino,
Sem
o vosso ser divino
Se
mudar!
Para
vosso amor plantar
Dentro
em nosso coração,
Achastes
tal invenção
De
manjar,
Em
o qual nosso paladar
Acha
gostos diferentes,
Debaixo
dos acidentes
Escondidos.
Uns
são todos incendidos
Do
fogo do vosso amor;
Outros,
cheios de temor
Filial;
Outros,
co’o celestial
Lume
deste sacramento,
Alcançam
conhecimento
De
quem são;
Outros
sentem compaixão
De
seu Deus, que tantas dores,
Por
nos dar estes sabores,
Quis
sofrer,
E
desejam de morrer
Por
amor de seu amado,
Vivendo
sem ter cuidado
Desta
vida.
Quem
viu nunca tal comida,
Que
é sumo e todo bem?
Ai
de nós! Que nos detém?
Que
buscamos?
Como
não nos enfrascamos
Nos
deleites deste pão
Com
que nosso coração
Tem
fartura?
Se
buscamos formosura,
Nele
está toda metida;
Se
queremos achar vida,
Esta
é.
Aqui
se refina a fé,
Pois
debaixo do que vemos,
Estar
Deus e o homem cremos,
Sem
mudança.
Acrescenta-se
a esperança,
Pois
na terra nos é dado
Quanto
nos céus guardado
Nos
está.
A
caridade, que lá
Há
de sei perfeiçoada
Deste
pão é confirmada
Em
pureza.
Dele
nasce a fortaleza,
Ele
dá perseverança,
Pão
de bem-aventurança,
Pão
de glória,
Deixado
para memória
Da
morte do Redentor,
Testemunho
de seu amor
Verdadeiro.
Ó
mansíssimo cordeiro,
Ó
menino de Belém,
Ó
Iesu, todo meu bem,
Meu
amor,
Meu
esposo, meu senhor,
Meu
amigo, meu irmão,
Centro
do meu coração,
Deus
e pai!
Pois
com entranhas de mãe
Quereis
de mim ser comido,
Roubai
todo meu sentido
Para
vós!
Prendei-me
com fortes nós,
Iesu,
Filho de Deus vivo,
Pois
que sou vosso cativo,
Que
comprastes
Co’o
sangue, que derramastes,
Com
a vida, que perdestes,
Com
a morte, que quisestes
Padecer!
Morra
eu, por que viver,
Vós
possais dentro de mim.
Ganhai-me,
pois perdi
Em
amar-me.
Pois
que para incorporar-me
E
mudar-me em vós de todo,
Com
um tão divino modo
Me
mudais,
Quando
na minh’alma estrais
E
dela fazeis sacrário
De
vós mesmo, e relicário
Que
vos guarda,
Enquanto
a presença tarda
Do
vosso divino rosto,
O
saboroso e doce gosto
Deste
pão
Seja
minha refeição
E
todo meu apetite,
Seja
gracioso convite
De
minha alma,
Ar
fresco de minha calma,
Fogo
de minha frieza,
Fonte
viva de limpeza,
Doce
beijo
Mitigador
do desejo
Com
que a vós suspiro e gemo,
Esperança
do que temo
De
perder.
Pois
não vivo sem comer,
Coma-vos,
em vós vivendo,
Viva
a vós, a vós comendo,
Doce
amor!
Comendo
de tal penhor
Nele
tenha minha parte
E
depois, de vós me farte
Com
vos ver!
Amém.
Nossos
Clássicos, 36 – José de Anchieta, poesia, páginas 13-20: AGIR – Rio de Janeiro,
1959
Excelente iniciativa, meus parabéns!
ResponderExcluir