Caritas
Christi urget nos.
Por Jonatan Rocha do Nascimento
Introdução
Sabemos
que, ao longo da humanidade, no desenrolar da história, o homem
sempre almejou alcançar a transcendência espiritual: o
inimaginável, o invisível, o misticismo.
O
Catecismo da Santa e Amada Mãe Igreja diz que, “[...]e somente em
Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa
de procurar [...]”1,
revelando que o ser humano, atraído por Deus, muitas vezes sem
buscar na Verdadeira Fonte, enveredou-se- como ainda o faz- por
caminhos muitas vezes tortuosos, equivocados, em contraposição ao
Amor Infinito, que nos impele.
Pensa-se,
então, que para os antigos era mais difícil buscar a verdadeira fé,
o verdadeiro amor, o verdadeiro Deus, Aquele que é. Isto porque
muitas eram as ideias e doutrinas pagãs, muitas eram as barbáries
cometidas, que afastavam o século da eternidade.
Atualmente,
contudo, vejo que não é bem assim. As coisas, ao meu ver, pioraram-
e é só o início.
Quero
tão somente exprimir meu pensamento, razão pela qual a adoção de
uma linguagem impessoal poderia provocar um distanciamento do que
escreve com o que sinto, o que não é meu objetivo.
Quero
me aproximar das realidades que muitos por aí veem e não sabem ou
tem medo de se pronunciar. Estou aprendendo com muitos santos, que o
medo não é dom de Deus e não pode ser confundido com o temor
reverencial ou com a cautela.
Assim,
acredito eu, que impelido por Cristo, resolvi escrever este pequeno
texto, que além de um pedido é um desabafo.
A
revelação de Deus
Atendendo
às súplicas do povo, a Eternidade passa a exilar-se no século,
como diria a própria Terezinha de Lisiéux, revelando-se, feito
mortal, o Altíssimo.
Da
mesma forma, nos ensina o Doutor Místico, São João da Cruz:
Porque
em dar-nos, como nos deu, seu Filho, que é sua Palavra única (e
outra não há), tudo nos falou de uma só vez
nessa única Palavra, e nada mais tem a falar, (...) pois o que antes
falava por partes aos profetas agora nos revelou inteiramente,
dando-nos o Tudo que é seu Filho2.
Assim,
vemos que, a Luz da qual João Batista dava testemunho, “Deum
de Deo, lumen de lumine, Deum verum de Deo vero”3,
vem nos visitar e querendo ficar conosco, razão pela qual Ele mesmo
funda sua Igreja, sob a chefia de Pedro, e institui os Santos
Sacramentos, dos quais a Eucaristia é o maior, "fonte e ápice
de toda a vida cristã 4".
E é aqui que quero me deter.
Fiz essa rápida
retrospectiva somente para introduzirmos o assunto que nos preocupa,
a Augustíssima Eucaristia, como é chamada no Código de Direito
Canônico.
O Santíssimo e
Augustíssimo Sacramento da Eucaristia
São Paulo nos
dirá: “O amor de Cristo nos constrange, considerando que, se um só
morreu por todos, logo todos morreram. Sim, ele morreu por todos, a
fim de que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que
por eles morreu e ressurgiu” (Cor. 5, 14-15).
Por esta razão,
todo o ser humano, principalmente os cristãos, devem viver esta
realidade, abrasados pelo amor de Deus, que nos quer comunicar e nos
transformar Nele. Os católicos, ainda mais!
Esta exigência,
tanto a mim mesmo, quanto a todos que são honrados com este nome,
deve-se ao fato de que na Igreja de Cristo, reside a plenitude da fé
cristã, reside a graça e, muito mais que isso, o Divino Autor e
Senhor de toda a graça existente: o Deus Trino.
Nossa alegria
reside em Deus porque ele mesmo é a Alegria Verdadeira. Alegria
desprendida da euforia, da algazarra, dos holofotes, das
demonstrações exteriores e/ou visíveis. De modo que, ao
observarmos uma partícula eucarística, onde quer que estivermos,
devemos nos perguntar: Quem compreenderá tamanho mistério?
O
que é, portanto, a Eucaristia?
Para mim, trata-se
de um mistério inigualável, uma dádiva suprema de graças
inesgotáveis, porque é a própria Graça. “A fonte e o centro de
toda a vida cristã”5.
“Na qual está contida todo o bem espiritual da Igreja”6.
O Sempiterno Deus,
desejoso de alcançar profundamente o homem, se achega novamente à
nós, no Sacrifício único de salvação, unindo-se a nós na Santa
Missa, por suas próprias mãos.
É óbvio, por
infinitas razões, que jamais serei capaz de explicar o mistério que
se encerra nas espécies eucarísticas.
Podemos contemplar
o Deus Altíssimo, tão próximo, tão íntimo, dentro de nós, e
assim, possamos transformarmo-nos Nele e, ao fim, Nele viver
plenamente. Vindo a nós, nos quer a Hóstia Imaculada quer também
nos transformar em hóstias puras e santas.
Cabe, neste
momento, expôr um dos mais belos cantos da Igreja, Panis
Angelicus, que expressam com fidelidade e com profundo amor
acerca da augustíssima Eucaristia:
Panis
Angelicus
fit panis hominum
Dat panis coelicus figuris terminum
O res mirabilis!
Manducat Dominum
pauper pauper servus et humilis
pauper pauper servus et humilis
Panis Angelicus
fit panis hominum
Dat panis coelicus figuris terminum
O res mirabilis!
Manducat Dominum
pauper pauper servus et humilis
pauper pauper servus servus et humilis
fit panis hominum
Dat panis coelicus figuris terminum
O res mirabilis!
Manducat Dominum
pauper pauper servus et humilis
pauper pauper servus et humilis
Panis Angelicus
fit panis hominum
Dat panis coelicus figuris terminum
O res mirabilis!
Manducat Dominum
pauper pauper servus et humilis
pauper pauper servus servus et humilis
Pão
dos Anjos
Torne-se o pão dos homens;
O pão do paraíso, fim de toda dúvida
Que maravilha!
Que consome a Deus
Pobre, pobre, Humilde servo
Pobre, pobre, Humilde servo.
Pão dos Anjos
Torne-se o pão dos homens;
O pão do paraíso, fim de toda dúvida
Torne-se o pão dos homens;
O pão do paraíso, fim de toda dúvida
Que maravilha!
Que consome a Deus
Pobre, pobre, Humilde servo
Pobre, pobre, Humilde servo.
Pão dos Anjos
Torne-se o pão dos homens;
O pão do paraíso, fim de toda dúvida
Que
maravilha!
Que consome a Deus
Pobre, pobre,Humilde servo
Pobre, pobre, Humilde servo.
Que consome a Deus
Pobre, pobre,Humilde servo
Pobre, pobre, Humilde servo.
Que maravilha! O
pão do paraíso, que põe fim a toda dúvida, desilusão, saudade ou
desespero, desce da Morada Eterna para se juntar a nós, como servo
humilde.
Não há como
dizer essas coisas sem lágrimas, mesmo que não sejam lágrimas nos
olhos, mas provenientes do mais oculto e profundo de nossa alma. As
mais preciosas lágrimas.
O Corpo e Sangue
de Cristo, presente unicamente na Santa Igreja Católica,
devolve-nos, pois o próprio Salvador nos possui e nos envolve, isto
é, quando estamos em perfeita comunhão com Ele e com a Igreja,
ornados com a sua própria graça, em condições espirituais de
gozarmos de tão grande dádiva.
Assim, “o amor
de Cristo nos impele” a comunicar esta notícia salvífica a tantos
quantos quiserem se abrasar nesta verdadeira chama do divino amor.
O
Papa João Paulo II assim nos diz: “A
Eucaristia é um dom demasiado grande para ambiguidades e reduções”7.
Com esta afirmativa, somos levados a professar que somos consumidos
pelo zelo e ardor da alma, principalmente, quando diante do Santo
Sacrifício, onde nos alimentamos destes frutos inexauríveis8.
[Continua...]
___________________________________________________________________________
1CIC,
§ 27.
2São
João da Cruz, apud, CIC, § 65.
3Creio
Niceno-Constantinopolitano: “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus
verdadeiro de Deus verdadeiro”.
5Const.
Dogm. Lumen Gentium, nº 11.
6Instrução
Redemptionis Sacramentum, nº 1.
7Carta
Encic. Ecclesia de Eucharistia, nº 10.
8Ibidem,
nº 11.
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