quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Caritas Christi urget nos. (Parte I)


Caritas Christi urget nos.

Por Jonatan Rocha do Nascimento


Introdução

Sabemos que, ao longo da humanidade, no desenrolar da história, o homem sempre almejou alcançar a transcendência espiritual: o inimaginável, o invisível, o misticismo.

O Catecismo da Santa e Amada Mãe Igreja diz que, “[...]e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar [...]”1, revelando que o ser humano, atraído por Deus, muitas vezes sem buscar na Verdadeira Fonte, enveredou-se- como ainda o faz- por caminhos muitas vezes tortuosos, equivocados, em contraposição ao Amor Infinito, que nos impele.

Pensa-se, então, que para os antigos era mais difícil buscar a verdadeira fé, o verdadeiro amor, o verdadeiro Deus, Aquele que é. Isto porque muitas eram as ideias e doutrinas pagãs, muitas eram as barbáries cometidas, que afastavam o século da eternidade.

Atualmente, contudo, vejo que não é bem assim. As coisas, ao meu ver, pioraram- e é só o início.

Quero tão somente exprimir meu pensamento, razão pela qual a adoção de uma linguagem impessoal poderia provocar um distanciamento do que escreve com o que sinto, o que não é meu objetivo.

Quero me aproximar das realidades que muitos por aí veem e não sabem ou tem medo de se pronunciar. Estou aprendendo com muitos santos, que o medo não é dom de Deus e não pode ser confundido com o temor reverencial ou com a cautela.

Assim, acredito eu, que impelido por Cristo, resolvi escrever este pequeno texto, que além de um pedido é um desabafo.


A revelação de Deus

Atendendo às súplicas do povo, a Eternidade passa a exilar-se no século, como diria a própria Terezinha de Lisiéux, revelando-se, feito mortal, o Altíssimo.

Da mesma forma, nos ensina o Doutor Místico, São João da Cruz:
Porque em dar-nos, como nos deu, seu Filho, que é sua Palavra única (e outra não há), tudo nos falou de uma só vez nessa única Palavra, e nada mais tem a falar, (...) pois o que antes falava por partes aos profetas agora nos revelou inteiramente, dando-nos o Tudo que é seu Filho2.
Assim, vemos que, a Luz da qual João Batista dava testemunho, Deum de Deo, lumen de lumine, Deum verum de Deo vero”3, vem nos visitar e querendo ficar conosco, razão pela qual Ele mesmo funda sua Igreja, sob a chefia de Pedro, e institui os Santos Sacramentos, dos quais a Eucaristia é o maior, "fonte e ápice de toda a vida cristã 4". E é aqui que quero me deter.

Fiz essa rápida retrospectiva somente para introduzirmos o assunto que nos preocupa, a Augustíssima Eucaristia, como é chamada no Código de Direito Canônico.


O Santíssimo e Augustíssimo Sacramento da Eucaristia

São Paulo nos dirá: “O amor de Cristo nos constrange, considerando que, se um só morreu por todos, logo todos morreram. Sim, ele morreu por todos, a fim de que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu” (Cor. 5, 14-15).

Por esta razão, todo o ser humano, principalmente os cristãos, devem viver esta realidade, abrasados pelo amor de Deus, que nos quer comunicar e nos transformar Nele. Os católicos, ainda mais!

Esta exigência, tanto a mim mesmo, quanto a todos que são honrados com este nome, deve-se ao fato de que na Igreja de Cristo, reside a plenitude da fé cristã, reside a graça e, muito mais que isso, o Divino Autor e Senhor de toda a graça existente: o Deus Trino.

Nossa alegria reside em Deus porque ele mesmo é a Alegria Verdadeira. Alegria desprendida da euforia, da algazarra, dos holofotes, das demonstrações exteriores e/ou visíveis. De modo que, ao observarmos uma partícula eucarística, onde quer que estivermos, devemos nos perguntar: Quem compreenderá tamanho mistério?


O que é, portanto, a Eucaristia?

Para mim, trata-se de um mistério inigualável, uma dádiva suprema de graças inesgotáveis, porque é a própria Graça. “A fonte e o centro de toda a vida cristã”5. “Na qual está contida todo o bem espiritual da Igreja”6.

O Sempiterno Deus, desejoso de alcançar profundamente o homem, se achega novamente à nós, no Sacrifício único de salvação, unindo-se a nós na Santa Missa, por suas próprias mãos.

É óbvio, por infinitas razões, que jamais serei capaz de explicar o mistério que se encerra nas espécies eucarísticas.

Podemos contemplar o Deus Altíssimo, tão próximo, tão íntimo, dentro de nós, e assim, possamos transformarmo-nos Nele e, ao fim, Nele viver plenamente. Vindo a nós, nos quer a Hóstia Imaculada quer também nos transformar em hóstias puras e santas.

Cabe, neste momento, expôr um dos mais belos cantos da Igreja, Panis Angelicus, que expressam com fidelidade e com profundo amor acerca da augustíssima Eucaristia:


Panis Angelicus
fit panis hominum
Dat panis coelicus figuris terminum
O res mirabilis!
Manducat Dominum
pauper pauper servus et humilis
pauper pauper servus et humilis

Panis Angelicus
fit panis hominum
Dat panis coelicus figuris terminum

O res mirabilis!
Manducat Dominum
pauper pauper servus et humilis
pauper pauper servus servus et humilis




Pão dos Anjos
Torne-se o pão dos homens;
O pão do paraíso, fim de toda dúvida
Que maravilha!
Que consome a Deus
Pobre, pobre, Humilde servo
Pobre, pobre, Humilde servo.

Pão dos Anjos
Torne-se o pão dos homens;
O pão do paraíso, fim de toda dúvida
Que maravilha!
Que consome a Deus
Pobre, pobre,Humilde servo
Pobre, pobre, Humilde servo.


Que maravilha! O pão do paraíso, que põe fim a toda dúvida, desilusão, saudade ou desespero, desce da Morada Eterna para se juntar a nós, como servo humilde.

Não há como dizer essas coisas sem lágrimas, mesmo que não sejam lágrimas nos olhos, mas provenientes do mais oculto e profundo de nossa alma. As mais preciosas lágrimas.

O Corpo e Sangue de Cristo, presente unicamente na Santa Igreja Católica, devolve-nos, pois o próprio Salvador nos possui e nos envolve, isto é, quando estamos em perfeita comunhão com Ele e com a Igreja, ornados com a sua própria graça, em condições espirituais de gozarmos de tão grande dádiva.

Assim, “o amor de Cristo nos impele” a comunicar esta notícia salvífica a tantos quantos quiserem se abrasar nesta verdadeira chama do divino amor.

O Papa João Paulo II assim nos diz: “A Eucaristia é um dom demasiado grande para ambiguidades e reduções”7. Com esta afirmativa, somos levados a professar que somos consumidos pelo zelo e ardor da alma, principalmente, quando diante do Santo Sacrifício, onde nos alimentamos destes frutos inexauríveis8

 [Continua...]

___________________________________________________________________________ 
1CIC, § 27.
2São João da Cruz, apud, CIC, § 65.
3Creio Niceno-Constantinopolitano: “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”.
4 CIC, §1324.
5Const. Dogm. Lumen Gentium, nº 11.
6Instrução Redemptionis Sacramentum, nº 1.
7Carta Encic. Ecclesia de Eucharistia, nº 10.
8Ibidem, nº 11.

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